quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

@4598

Postado por Bianca Barion às 21:06 0 comentários


Estou me esquecendo, principalmente do sentir e do palpável
Nossas mãos abraçadas uma na outra
Pudera isso ser uma benção, mas parece um pedaço muito importante antes do desmoronar
Quero manter o antes disso, quero manter o reinado

Não faz nem uma semana, por que me esforço para lembrar? 
Sons distintos, risadas de euforia e corpos ansiosos se levantando para agarrar as sacolas de cor avelã 
Que já deixavam claro o que estaria dentro delas
Puxava em minha direção um braço que nunca tocara na vida e um calor amigável, um abrigo em meio a tanta vergonha
Tanta exposição 
Só percebi isso depois. O quanto tocar você pela primeira vez ficou marcado nos olhos de todos. Muito mais no que nos meus próprios
Eu queria me desprender, mas parecia que você estava gostando da adrenalina também
Talvez

Barulhos dispersos, pinos caindo, risadas de comemoração. Eu te disse alguma coisa, não sei o que era. Rimos, descemos as escadas rolantes. Do shopping ao metrô. Elas observavam e sabiam o que estava acontecendo.

Eu me lembro, nossas mãos permaneceram juntas por uma eternidade. 
Isso está se esvaindo
Observo seu relógio cor de prata todo dia. Você o sacode, pensativo, intuindo o que deve ser feito na tela clara
Eu não consigo acreditar que minhas mãos já foram autorizadas a envolver aquele pulso, aquele braço.
Se eu inventasse isso na minha cabeça, poderia parecer mais real

E então, se eu não tivesse tido medo. Se meus lábios tivessem conhecido os seus. Lábios que quase nunca vi, uma camada de pano os cobrem 
Me pergunto se no dia seguinte eu seria substituída tão facilmente por uma presença que é mais semelhante a sua
Ou a minha teria sido o suficiente
Acredito que seria apenas mais doloroso

Eu ruborizo, eu me queixo. Eu quero fugir. Detesto tudo sobre esses momentos.
Menos nossos braços encostados, esperanças mortas e uma flor que não se pode arrancar da raiz.
Eu eternizei aqui, de alguma maneira, as poucas horas de algo que jamais se repetirá entre nós

Eu me lembro muito bem.



quarta-feira, 29 de setembro de 2021

ribeirão

Postado por Bianca Barion às 01:33 0 comentários
eu sinto que tenho que manter os olhos fechados pelos próximos dias
a falta do meu carro não me levará a lugares que eu gosto
lugares que eu tirava foto até do detalhe escondido, porque eu tinha achado cantinhos especiais
quero que tudo mergulhe em caixas de papelão sem cor
quero o espaço suma da minha visão
não quero lembrar de cada pedaço seu e como eu amo você
que quando me veio em mente se todos nós temos um paraíso individual, que Deus nos dá o lugar que nos sentimos mais confortaveis enquanto vivos e então passaremos a eternidade lá. um lugar. não uma cidade. um momento. e sim um apartamento. você, eu pensei no mesmo segundo, quero poder ficar aqui pela eternidade, mas enquanto eu estiver viva, nenhum lugar é minha casa.
não posso criar raízes, tenho que ser forte, tenho que continuar caminhando ao meu objetivo.
eu queria que você tivesse sido o último lugar a me abraçar antes de eu partir sozinha pelo mundo.
eu tenho vontade de desistir.
de ficar aqui com você.
desculpa se não posso.
você é o lugar que mais amei em chamar de lar, mesmo eu achando que meu lar está do outro lado do mundo. aqui você é o meu. e como se diz adeus a você?
no final das contas, temos que ser nossa própria casa.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

castiel

Postado por Bianca Barion às 02:09 0 comentários
a primeira música que coloquei para tocar quando atingi seus pedais, aquela da minha novela favorita, o espaço foi preenchido com felicidade e você me abraçava, confiante. você me guiou para casa e me confortava ao saber que era tão fácil lidar com você. mesmo que te batesse no chão rispido da calçada, nada de você caira. você foi minha primeira conquista, você me levou para fora do meu cep e me dirigiu a outro. me esperava no ar preenchido com aroma de laranja da minha universidade. sempre se destacou no meio de tantos iguais a você por conta de seu adesivo que não conseguimos tirar de sua cor cinza e então se integrou a ti. seja sua própria casa, sempre pensei, mas você é a minha. porque apenas quando suas luzes laranjas se acendem eu sei que estou no lugar certo e, caso não esteja, você me levará lá. 
me desculpe por fazer você de consultório e achar que estava tudo bem não ter reflexos o suficiente. me desculpe pela dor ao bater naquele pedaço de aço cortante que sangrou toda sua lateral. um sangue cor amarela que não combina com seu cinza.
no fim da minha primeira corrida de alguns km com você eu disse "obrigada, castiel, eu amo você" Castiel porque é o nome de um anjo, que nem você, que me fez perder o medo de dirigir.
agoro te peço perdão e agradeço, de alguma forma, não ter permitido me machucar.
assim como o primeiro amor, o primeiro carro não esquecemos.
logo você estará bem. eu te amo, viva para sempre, por favor. 

terça-feira, 22 de junho de 2021

kate

Postado por Bianca Barion às 00:40 0 comentários

 eu mal atravessava o tortuoso caminho de areia, pedra e tímidas folhas verdes que nasciam 

o sol era escaldante e eu odiava como minha pele pálida refletia enquanto eu caminhava por lá

mesmo nos intervalos, eu me contentava em ficar na frente do computador

lendo algum artigo urgente da universidade

você lembra? quando eu era apenas uma menina descendo a grandiosa ladeira que levava até o portão de casa

você me esperava e sabia exatamente quando meu passos frustrados, pesados, batiam contra a calçada, mesmo que metros de distância

em direção às paredes verde que você colocou suas patas no dia que foram pintadas

que tentou cavar um buraco a fim de poder entrar em algum outro lugar

nunca saberei onde 

talvez puro instinto de deixar minha mãe maluca porque o concreto se partia e a fachada da casa era completamente marcada com sua presença

porque você era parte dela  

quando eu abria o portão bambo, você abanava seu rabo e dali não me dava mais atenção

você sempre foi estabanada, não é mesmo?

"katite, venha cá!" você nem me dava ouvidos

você sempre foi cheia de vida, não parava quieta um segundo, talvez por isso viveu como uma guerreira

mesmo que tudo estivesse contra você

lá estava minha katite, minha kate, tentando se levantar novamente

mesmo que não pudesse andar

ouvir

ou enxergar

você estava lá e isso me reconfortava 

mesmo que nunca tenhamos olhado profundamente uma nos olhos da outra

eu te segurei no colo e te protegi 

você era tão pequena, mais pequena que qualquer vida que eu tivesse segurado

e mais gordinha que todas elas juntas

você recebia tantos elogios aonde passava, você, virada com sua barriguinha para cima

pelos dourados

e sempre sorridente nas fotos

para sempre vou lembrar do seu sorriso, dos seus olhos 

da força que você tinha, me arrastando pelo parque e então eu desistia da missão de te domar

você nunca foi domada e nem teria o porquê

a kate sempre será isso, forte, batalhadora, dona de uma personalidade inenarrável

apaixonada pelo seu pai Alexandre mais do que tudo nessa sua vida

enquanto a titia tentava dar o máximo que na verdade era o mínimo 

 katite, aí do céu, espero que saiba o quanto te amo e me desculpe por não ter dito adeus

por estar numa cidade longe, por não ter olhado seu pelo dourado que agora dava espaço ao grisalho pela última vez

por não ter atravessado com frequência o caminho até onde você ficava diariamente

que Deus dê essa recado a você ou que você simplesmente saiba

você é e sempre será minha batalhadora

agora chegou sua hora de descansar 

em paz 

eu sei que um dia irei te encontrar 

nós te amamos para sempre. 

"Tá cansado, né? Não precisa fazer nada. Não está com a mesma energia de sempre. Lembra como a gente falava de como você era chato, que era o pior cachorro do mundo? Não acredite, não acredite nem por um minuto, porque não encontraríamos um cachorro melhor. O que tornava você um cachorro tão genial era que você nos amava todos os dias, de qualquer maneira e isso era uma coisa incrível. Sabe o quanto amamos você. Nós te amamos demais. Amamos você mais do que tudo. Eu não sei exatamente o que vai acontecer, mas quero que se lembre que é um ótimo cachorro. Você é um ótimo cachorro." Marley&Eu 


quarta-feira, 26 de maio de 2021

nos conhecemos por acidente

Postado por Bianca Barion às 00:05 0 comentários



 eu nasci em uma cidade de doze milhões de habitantes 

compartilho um lar com mais setecentas mil pessoas

o interior me acolheu pela primeira vez com seus duzentos e cinquenta e quatro mil abraços

trilhei um caminho pelos duzentos e trinta e oito mil paralelepípedos 

passei por um país de um bilhão de rostos cansados pelas ruas de uma manhã imersa no céu poluído e cinza

e mesmo assim minha alma almeja mergulhar em um lago azul

nos olhos cor de mel distantes, a quatrocentos e nove quilômetros que se tornam cinco horas

e que em cinco horas eu sinto vontade de contemplar seu rosto um bilhão treze milhões cento e noventa e dois mil quatrocentos e nove vezes

no meio de toda essa imensidão, eu fui encontrar o menino dos meus sonhos, fisicamente, espiritualmente e com o mesmo humor do meu devaneio da meia noite aos 15 anos de idade

em um lugar com dois mil habitantes

agora sinto que minha ânsia de conhecer o mundo se resumia a uma cidade que nunca vi no mapa de meu país 

e que meu sonho adolescente era puramente uma miragem de alguém que verdadeiramente existia

longe, mas estava lá, imerso em acordes

dentro de um coração de ouro

mesmo isso sendo um sonho inalcançável

finalmente te encontrei

agora, minha alma almeja o meu amor da vida adulta

escrevo isso, porque ainda sou a mesma

mas seu coração nunca estaria pronto para me abrigar 

o que me resta é um espaço reservado à uma amiga

e esse laço nosso, nem a vida adulta corta




quinta-feira, 29 de abril de 2021

ânimo

Postado por Bianca Barion às 01:32 0 comentários




 eu queria garantir que próxima semana eu estarei aí

que iremos brindar como havia prometido no áudio de 3 minutos o qual relatava o quanto gosto de sair 

eu ria tanto que me perguntavam se eu estava bêbada

afirmava que não

nessa situação de animação descontrolada a última coisa que eu poderia fazer seria beber

"por favor, pare de perguntar se bebi" eu sussurrava

porque agora conheço que tudo há um limite

até para uma felicidade exacerbada

a tristeza vem com a mesma força

bate na sua carne e depois atinge seus ossos 

e então você tem certeza que todos te odeiam

até a amiga que escutou seu áudio 

a que estava rindo com você

você nunca encontrará o amor, a memória diz

porque quando você chorou e abriu suas feridas

eles foram embora, com medo

"ela é louca" devem ter pensado

e por isso eu não posso garantir que próxima semana irei te ver

porque nem eu mesma sei em que versão minha estarei mergulhada

a que derrama ou a que joga tudo para o alto e vê os destroços caírem nos olhos, sorrindo, e nem se sabe o porquê do sorriso

eu não sei quando esse vazio vai passar

e quando o falsa preenchimento dele irá embora 

só desejo não ir embora de mim



sábado, 24 de abril de 2021

ser madura não é deixar com que os outros te machuquem

Postado por Bianca Barion às 00:51 0 comentários
eu fielmente consigo reproduzir suas palavras em minha memória
sua expressão
suas mãos tremulas 
você repetia, de novo e de novo, que me admirava 
que eu era madura
e só agora, realmente amadurecendo, posta naquela situação
consigo me ver como tudo, menos como madura
eu não tive respeito com a pessoa que mais amo
comigo mesma
meu reflexo no espelho, rosto ruborizado 
olhos que ardiam, o ar que me sufocava
você me desprezou e eu deitei mais uma noite ao seu lado, na cama fria
porque, ali, eu amava mais você do que a mim
e hoje te agradeço por ter ido embora
só assim consegui ver como eu colocava alguém que conhecia há 1 mês acima de quem eu sou há 24 anos

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

se eu escrevesse sobre você, você leria?

Postado por Bianca Barion às 17:48 0 comentários




Houve um tempo em que você quebrou meu coração e, como uma maldição, eu nunca ousei escrever sobre o amor enquanto ele florescia. Cabia às minhas palavras o último estágio dele, a ruptura, depois que tudo tinha sido desfeito e eu fincava a dor em textos. Houve tempos em que me apaixonei por você, o desejo da ida diária a sua casa, onde podia te alcançar facilmente atravessando a rua. Depois a distância deu-se por meio de algumas fileiras, à espera do caminho da sua silhueta passando pelos portões de um colégio. Você, alto como um castelo, personificação de um conto de fadas e inalcançável tanto quanto. E entre tudo isso, o universo que silenciosamente trabalhava, como sempre foi e sempre será. Eu voltava para você sem ao menos perceber. Quando uma taça de vinho diretamente me dava a coragem de te desejar um feliz ano novo às 1:06 da manhã e ver seu rosto numa chamada às 23:25 da noite. A correspondência do destino me trazendo à lembrança do primeiro amor. Aquele que nem pode ser nomeado de romântico, mas tem valor muito maior, a simplicidade da pureza de duas crianças. A visão de uma casa com corredores enormes e um menino de cabelos dourados que dificilmente se ouvia o som da voz. Onde nenhuma maldade podia nos alcançar, nem a dor de um coração partido. Meu coração desperta e se aquece com a ternura dos momentos que você me proporcionou e agradeço a todos que estão acontecendo. Pela primeira vez, obrigada por me permitir escrever um texto feliz e cheio de esperança, da forma que for, isso é único. Se eu tivesse o poder de voltar no tempo, iria estar no seu portão, esperando um abraço, sem que um oceano me impedisse de tal ato.  

 

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