Hoje você
veio me visitar no começo da madrugada, fazia tempo que isso não acontecia.
Você costumava entrar em meu inconsciente por meio de cenários pintados de um
cinza escuro, onde eu não conseguia distinguir muita coisa além da sua voz que
ia se esvaindo para longe de mim.
Talvez você
não tenha vindo mais porque sabia que eu estava ocupada tomando conta de uma
visita, eu estive tentando amar outra pessoa, não tive tempo para deixar a
porta destrancada. Agora que todo o espaço encontra-se estranhamente vazio, você
apareceu.
Estávamos
imersos sob pingos de água que caiam sincronicamente sobre nossos cabelos já
molhados, transformando-os em um castanho escuro. Você sorria como se soubesse
que eu sentia sua falta e me levou para uma cena que eu experimentei pela
primeira vez com você. Ali, eu não me lembro de você ter me dito nada, mas seus
olhos, escuros agora como seus fios de cabelo, diziam tanta coisa. Houve um
toque sobre meus ombros pelos seus dedos molhados e enrugados. “Como você está?”
eles sussurravam. Minhas lágrimas não aparecerem porque os pingos do chuveiro
agora eram mais fortes. “Eu sei”, novamente outra parte sua falava, “Só o meu
toque alcança cada fibra tua”. E eu concordo, silenciosamente.
Como de
costume, você sumiu sem se despedir, e agora eu não quero que as luzes do meu
quarto se apaguem para que eu me encontre com você novamente. A cama parece grande e vazia demais e tenho medo de fechar meus olhos. Não quero ser
lembrada que todo esse tempo eu estive sentindo sua falta. Que eu nunca amei
ninguém como amei você e que nenhum abraço me acolhei como o seu. Que todo esse tempo que estive com outro alguém, só
metade do meu coração se permitiu, porque ele completo só cabe você.
Assim como nessa imensa cama que você jamais chegou a se deitar e onde nessa pequena cidade você jamais chegou a vir. Você me visita apenas dessa maneira distante, mas é nesse momento, nesse exato momento que sei que minha alma também viaja até você. Me vejo no apartamento 13 seguindo em direção ao seu antigo quarto onde agora nem você está mais e percebo, me dividindo em pedaços sobre um chão frio, que tudo acabou e que me resta apenas isso.
Você batendo em minha porta às três horas da manhã e eu, sem escolha, te deixo entrar.