quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

[TEXTO] O DESPERTAR DOS TEUS OLHOS

Postado por Bianca Barion às 22:46 1 comentários

E se fosse necessário fazer o retrato do amor ele seria moldado com a forma de alguém deitado em uma cama, 1h45 da manhã de uma quarta-feira, onde às 6h00 é esperado que já se esteja de pé, cabelo penteado, rosto limpo e café na caneca de porcelana. Mas ainda são 1h46 e a luz amarela do abajur projeta-se na parede branca e quase que dá para ver aquele olhar vago para a parte do quarto que ainda permanece escura. Olhar cansado de quem se vê imerso em um ambiente decorado de dúvidas as quais ali, naquela madrugada, não serão resolvidas e talvez nunca sejam. É a troca de lado da cama, o ritual de amassar os travesseiros e encontrar-se repetidamente em uma teia de lençóis emaranhados. O fechar de olhos que não leva ao inalcancável dormir e sim aos olhos de cor caramelo esverdeado e à lembrança do toque da mão. Quando a luz tímida do dia surge pela fresta da janela é que se percebe que nenhuma noite de sono cura o que o coração carrega.

And if it were necessary to make a portrait of love, it would be shaped by someone lying in bed, at 1:45 am on a Wednesday, where at 6:00 am you are expected to be up, hair combed, face clean and coffee. in the porcelain mug. But it's still 1:46 and the yellow light from the lamp projects itself on the white wall and you can almost see that vacant stare at the part of the room that still remains dark. The tired look of someone who finds himself immersed in an environment decorated with doubts which, at that dawn, will not be resolved and perhaps never will be. It's the changing sides of the bed, the ritual of crumpling the pillows and finding yourself repeatedly in a web of tangled sheets. The closing of the eyes that does not lead to the unreachable sleep, but to the caramel-green eyes and the memory of the touch of the hand. When the shy light of the day appears through the crack in the window, it's when you realize that no night's sleep cures what the heart carries.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

[TEXTO] 3:00 AM

Postado por Bianca Barion às 02:01 2 comentários


Imagem de art, painting, and drawing


Hoje você veio me visitar no começo da madrugada, fazia tempo que isso não acontecia. Você costumava entrar em meu inconsciente por meio de cenários pintados de um cinza escuro, onde eu não conseguia distinguir muita coisa além da sua voz que ia se esvaindo para longe de mim.
Talvez você não tenha vindo mais porque sabia que eu estava ocupada tomando conta de uma visita, eu estive tentando amar outra pessoa, não tive tempo para deixar a porta destrancada. Agora que todo o espaço encontra-se estranhamente vazio, você apareceu.

Estávamos imersos sob pingos de água que caiam sincronicamente sobre nossos cabelos já molhados, transformando-os em um castanho escuro. Você sorria como se soubesse que eu sentia sua falta e me levou para uma cena que eu experimentei pela primeira vez com você. Ali, eu não me lembro de você ter me dito nada, mas seus olhos, escuros agora como seus fios de cabelo, diziam tanta coisa. Houve um toque sobre meus ombros pelos seus dedos molhados e enrugados. “Como você está?” eles sussurravam. Minhas lágrimas não aparecerem porque os pingos do chuveiro agora eram mais fortes. “Eu sei”, novamente outra parte sua falava, “Só o meu toque alcança cada fibra tua”. E eu concordo, silenciosamente.


Como de costume, você sumiu sem se despedir, e agora eu não quero que as luzes do meu quarto se apaguem para que eu me encontre com você novamente. A cama parece grande e vazia demais e tenho medo de fechar meus olhos. Não quero ser lembrada que todo esse tempo eu estive sentindo sua falta. Que eu nunca amei ninguém como amei você e que nenhum abraço me acolhei como o seu. Que todo esse tempo que estive com outro alguém, só metade do meu coração se permitiu, porque ele completo só cabe você.

Assim como nessa imensa cama que você jamais chegou a se deitar e onde nessa pequena cidade você jamais chegou a vir. Você me visita apenas dessa maneira distante, mas é nesse momento, nesse exato momento que sei que minha alma também viaja até você. Me vejo no apartamento 13 seguindo em direção ao seu antigo quarto onde agora nem você está mais e percebo, me dividindo em pedaços sobre um chão frio, que tudo acabou e que me resta apenas isso.

Você batendo em minha porta às três horas da manhã e eu, sem escolha, te deixo entrar. 


 

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