Foi naquele dia. Quase dois anos depois de eu ter sentido que você faria
parte de mim e da minha vida. Onde eu descobri que o lugar ao qual eu
pertencia podia ser uma pessoa. Você era meu lar. O lugar em onde eu me sentia segura e de onde eu sentia saudades ao me afastar. E agora, com
o efeito do tempo pesando sobre nós, acordo ao seu lado, você levanta apressado, de costas e de tão longe eu percebo que você não é mais minha casa. Você se tornou
uma espécie de albergue velho e longe de tudo que eu procuro quando compro uma
passagem só de ida pra solidão. Um tipo de amor raso, aguado e sem cor. Aquele
tipo que não quero mais.
Você toma seu caminho pela direita e eu vou no sentido contrário,
exatamente como nossas vidas. Linhas que já estiveram tão enroscadas e que agora
não se encontram mais. A cada passo que dou, o peso do meu peito diminui ao
saber que nunca mais virei ao seu encontro. Me alívio em saber que estou
sorrindo em meio a cada lembrança que essas ruas me dão, porque sei que dessa
vez é uma decisão minha e não sua. Não é você quem vai me deixar de novo sem
respostas. Não é você quem vai fugir para não ter de contar a mim o que estava
fazendo. Me usando. Me iludindo. Me destruindo. Não terei de ouvir mentiras tão
bem arquitetadas, mas que com um sopro vão ao chão. Eu estou me mudando.
Não correrei para seu peito. O lugar em que eu fugia de tudo e me
abrigava de todo mal que circundava lá fora, mas foi quando eu descobri que o
inimigo estava próximo de mim, sob o mesmo teto, que vi que nada ali me
pertencia. Nada naquela casa era meu, nenhum sentimento, nenhum afeto. Eu me
libertei de toda mobília e memórias.
Você mudou e eu me pergunto se sua alma se encontra enterrada em alguma parte
de dentro do seu corpo ou se aquela pessoa que me apaixonei sequer chegou a
existir. Talvez tudo fosse uma projeção da minha cabeça, talvez eu mesma tenha
te colocado em um pedestal enorme que nunca mereceu. Talvez eu procurasse
motivos para te enriquecer com qualidades que nunca existiram. Você mudou e eu
não quero mais ser a mesma. Não posso e não devo.
E quando tudo mudou, seu riso não mais ecoava nos meus ouvidos. Suas
palavras não mais me afetavam. Seu toque proposital, vazio de qualquer
sentimento, não me tocam mais. O castanho dos seus olhos se transformaram em uma simples escuridão perversa. Seu beijo perdeu o gosto e o amor no seu peito já
não mora mais.
Você mudou e eu me mudei de você.
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