Eu queria telefoná-la, mandar um email ou quem sabe uma
carta. Carta. Ela ficaria feliz em receber uma. Queria contar-lhe o que vem
passando aqui dentro e o que assusta lá fora. Como as coisas mudaram e como eu
superei alguns medos. Como outros cresceram, como pessoas foram embora. Não.
Ela não ia gostar de saber disso. Se eu ao menos pudesse encontrá-la em algum
canto. Escolher as palavras certas para que ela não me olhasse com pena. ‘’Você
sabia exatamente o que queria’’. Não quero ouvir isso dela.
Ela ficaria feliz em saber que entrei na faculdade. Talvez
risse dos meus novos gostos e diria ‘’Jamais eu gostaria disso’’. Eu riria
também. E se eu dissesse sobre minhas magoas? Bem, ela arregalaria os olhos e
diria que isso é normal. Sempre será. Me confortaria com um livro ou dizendo
para eu ir escrever. Faz tempo que não escrevo, aliás. Isso a deixaria
desconsertada.
Se eu ao menos pudesse encontrá-la. Ela que sou eu. Ela que
acreditava nos seus sonhos com tanta garra. Acreditava que a coisa mais bela
era o amor. Que chorava e tinha ataques de ansiedade e achava beleza em algum
lugar naquela catástrofe. Eu sempre recolhia os pedaços. E escrevia. Escrevia
até tudo de belo e doloroso sair. Ela que queria o mundo. Eu que não
tenho mais esperanças.
O último gole de esperança é aquele de a achar. E quando eu me achar, não dar um simples telefonema. Ela quem vai me guiar. ‘’Ei, não se
perca’’. ‘’Nós somos indecisas mesmo, mas o sonho que nos escolheu nunca nos
deixa’’.
Eu posso ter deixado o sonho. Mas o sonho está lá. Junto
dela. Junto de mim. Eu só preciso encontrá-los.
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